18 setembro, 2014

POEMAS NO CÂNDIDO



Poemas "Admirável Mundo Novo" e "Going Down" publicados na edição número 38 (setembro/2014) do jornal Cândido da Biblioteca Pública do Paraná



Para ler os textos acesse o link abaixo:

http://www.candido.bpp.pr.gov.br/arquivos/File/candido38FINAL.pdf





A PLENOS PULMÕES - REVISTA PLURIVERSOS


Conto lírico "A Plenos Pulmões" publicado no número 2 da revista Pluriversos


Para ler o texto na íntegra acesse o link abaixo:

http://issuu.com/marciodomenes/docs/revista_pluriversos__02


DOMINGO - REVISTA BENFAZEJA




Conto "Domingo" publicado na revista Benfazeja

Leia o conto na íntegra no link abaixo:

http://www.benfazeja.bravowebdesign.net/2013/09/domingo.html



ESQUINA DA AVENIDA MUNDO - CONTOS MARINGAENSES



O meu conto "Esquina da Avenida Mundo" na página do "Contos Maringaenses"

Leia o texto na íntegra no link abaixo:
http://contosmaringaenses.blogspot.com.br/2014/06/esquina-da-avenida-mundo.html





POEMA "SAMBA DE AUSÊNCIAS" PUBLICADO NO JORNAL O DUQUE





Poema "Samba de Ausências" que saiu na seção Sarau do jornal de cultura O Duque

Leia o texto na íntegra no link abaixo:
http://www.oduque.com.br/luigi-ricciardi-samba-de-ausencias/



22 julho, 2014

HUMANOS SÃO HUMANOS (?) - ENSAIO SOBRE A EVOLUÇÃO

Conto pertencente ao livro Anacronismo Moderno, lançado em 2011. 


HUMANOS SAO 
HUMANOS (?)

         Houve um tempo em que tudo era imprevisível. A lógica era disciplina excluída da totalidade terrena. O virar à esquina escondia-se como um monstro aquático, um ser de lendas e mitos presente em corpo, carne e dentes. Nefasto passado, arrancador de suspiros de espíritos amedrontados com sua lembrança, quase sempre afastada das conversas sociais. A morte era em si maiúscula, e ainda vestia preto. Gotas abastadas alcoolicamente e discussões com garrafas na cabeça, domingo despretensioso a andar sob a rua aparentemente deserta, cigarros relaxadores, traições gozantes, salgadinhos com efeito longo, mas precisamente mortais, todos eles. O acaso, rei das situações, dava seu às de copas. Isso tudo nas épocas do controle remoto, artefato indígena.
         Isso fora tudo antes da lei, medicinicamente regrada, a de não se morrer mais antes dos cem anos. Conta-se que a euforia ganhou carnavais, vida eterna até as dez décadas, símbolo da liberdade e vitória (temporária) contra a gadanha impiedosa. Livre do jugo e do acaso da senhora de preto, planeja-se tecnicamente, como um projeto de guerra, todos os passos tranqüilos da existência terrena. Uma ou duas faculdades? Quantas viagens à Europa? Três filhos até os quarenta, e depois os sonhados netos. Se um rim se apedrejava por dentro um novo lhe era dado. Um coração desritmado encontra um substituto a preço de banana. Tudo passou a ser quase eterno na terra da morte.
Mas se da vida e da morte não há senão histórias, esta é mais uma fábula pertencente a tal classe. AIDS e cânceres eram maus de um passado nem presente em livros didáticos, excluídos da nova realidade, duradoura e segura. O porvir, contudo, limitava-se, sabendo já os mais atentos à narrativa, a uma certa idade: os cem anos. Alcançando tal feito, a sociedade aplaudia a conquista e um letal líquido inserido nas veias enviava o felizardo ao nada da existência. E de que importa agora, o tudo não pode ser alcançado, e há aqueles que dizem que o tudo não é nada, mero título para o fracasso, quando lá se chega, vê-se que o que se teve é senão o nada mesmo.
         O pior de tudo nunca fora morrer, fora nunca saber quando se morreria. O mundo aqui é mais previsível, o encontro com a morte tem hora marcada para todos. Linda nova teologia, o próprio boi se dedicava ao abate crendo que, após tal feito, claro está, alcançando a idade máxima permitida por lei, não se conseguiria mais nada encarar. As dores de morte, mitos de lendas anciãs, regressariam do túmulo para atacar a vítima, visto que a medicina o abandonaria se decidisse não ser vacinado com a seringa da morte. Logo, não se viu ato algum de enfrentamento da vida após o soprar das cem fatídicas velinhas. Inteligente constituição não previu lei, convenceu discursivamente durante os novos séculos cada habitante. Cibernético convencimento de maciças leis do século XXII.
         Eis, por intermédio sabe-se lá de deuses antigos ou de Lilith, nasceu em campo infértil semente de Aquiles grego, força revestida de clarividência. José, comum de suas suburbanices, no soprar de suas cem velas, não quis ser picado pela agulha do destino. Revolução familiar imediata, ovelhas governamentais, amamentadas sem saber, ecrã persistente, sobrevivido mesmo após décadas de descrédito de filósofos engajados. Foi expulso de casa, virou notícia de novo jornal. Em todos os cantos, sobretudo na habitadíssima Antártida, centro do novo mundo espaçocibernético, dadora de regras e leis intransponíveis.
         Atentado à nova modernidade essa recusa, onde já se viu, volta ao primitivismo, lutou-se tanto para aqui chegar e tudo isso se desfenestra. Quiseram-lhe a morte obrigada, mas agora sofrida, já que quis voltar ao passado. Pediram-lhe o fuzilamento, a cadeira elétrica, métodos outrora utilizáveis. Alguns, mais exaltados, clamaram por uma tal cruz, usada em tempos longínquos. Se as brigas entre negros e brancos, orientais e ocidentais, homens e mulheres eram coisas do passado, agora se via o ódio pelo outro nutrir-se pelos não-mortos, neste caso ao único representante da nova classe.
         Não encontraram maneira de como extingui-lo, mas sim como aniquilá-lo aos poucos. Não conseguia emprego, não havia quem o vendesse sequer migalhas. Partilhava os restos dos cães na madrugada gélida das ruas. Na calada, umas quantas bebidas furtava para apagar a dureza do pesar. Era visto por vezes estendido ao sol fumegante nos cantos das calçadas. Os passantes, utilizando-se de suas filosofias de roer osso, usurpavam-lhe o destino, criticando seus novos passos. Mas porque a dor? Como alguém escolhe isso? Diziam isso ao vê-lo ébrio de seus quase cento e um.
         E se de melancia no pescoço vive a raça humana, eis que se puseram corredores atrás do nosso Forrest Gump. Avalanches de vacinas renegadas desceram o morro, beijando o mar da insatisfação. Foram aos bares esquinais, a desafiarem a foiçuda, para ver se ela realmente era a macha que fora nos tempos longínquos. E a encontravam: uma dor no peito, um passo mal dado na escada, três copos além da consciência. A diversão era vê-la de frente e brincar de pique-esconde. Desviar do carro no último segundo, subir o prédio pelo lado de fora com só uma corda quando os ossos já não têm mais o formol governamental, o vômito da bebedeira, os 450 km/h na nova rodovia.
        De tanto lutar, algum tempo depois, uma década talvez, já não se sabe, cansou-se e lá se foi José e sua clarividência a encontrarem aquela que se veste de negro. A segurança e a previsibilidade devem ser-nos inimigas. As capas de algodão têm agora franjas de seda. Daqui onde estamos se entende ainda menos o que acontece aí nessa terra do tempo. Um dia discutindo isso com Deus, perguntando a ele a razão de tal ato, ele confusamente me responde: Humanos são humanos!

01 junho, 2014

COMO SE HOUVESSE AMANHÃ







Como se Houvesse Amanhã
Luigi Ricciardi
E quem disse que ainda existe o hoje? Tudo é efêmero, e chega de clichês dizendo que a vida é efêmera, pois ela é e já sabemos disso. Mas as coisas que nos cercam se tornaram mais efêmeras ainda por poderes que vêm de cima, de alguém que manda e do qual não vemos a cara. A notícia de ontem já é muito velha hoje, causa repulsa como se viesse da Idade Média. Parece que nem o ontem temos mais, somos figuras pré-moldadas soltas e sem alicerce, até Deus está morto, e o matando nada é permitido mais, pois não temos em quem colocar a culpa de nada, das injustiças, dos problemas sociais etc. O ser humano é muito egocêntrico para assumir qualquer culpa, precisa de algo ou alguém que o isente, e Deus exercia esse papel. Não era vivo que proibia as coisas por meio de uma religião caduca, mas morto. Ele priva o ser humano de ser mais cruel do que já é. Esse foi o castigo que ele nos deixou. E justo! Pagamos o alto preço. No fundo pagamos o preço de muita coisa, até o preço da liberdade, que é um conceito questionável. Diga-me, minha pequena descerebrada, liberdade pra você é só abrir as pernas pra mim quando tem vontade e pra quem você quiser também quando lhe vem à telha? Esqueça, não precisa responder. Vá ao banheiro para eu poder continuar conversando aqui com o senhor Leitor. Liberdade pra ela foi colocar aqueles não sei quanto miligramas no peito. Diz que foi uma libertação, a família dela era muito religiosa e ela não podia fazer nada. Agora ela pode beber, colocar peitos, fazer academia, ir na balada. Até cursar universidade, veja só. Ela teve inclusive uma fase marxista, mas não passou de três relações lésbicas e um protesto contra as mulheres casadas. Depois desistiu disso e foi trabalhar no shopping. Por qual razão eu ainda como ela? Ah sei lá, eu também sou condicionado, o que eu não entendo é a razão dela dar pra mim toda semana, os marombados estão à solta. Enfim, falemos de outra coisa, ela está vindo. Por esses dias eu andava lá pelos corredores da universidade e, saindo de um dos blocos, eu vi escrito na parede a palavra “goze”. Acho que quem escreveu aquilo pensou em um sentido libertário, que no fundo está mais que démodé. Olha só, lá vou eu agora defender modernidades, sou uma peça em contradição. Enfim. Há tempos atrás se uma mulher gozasse, por exemplo, tinha de se tratar, era coisa do demônio, imagina, mulher se entregando assim aos prazeres da carne é sirigaita, mulher de verdade tem de servir ao seu homem, à reprodução e aos afazeres domésticos. Hoje em dia nessa pseudo-liberdade, todo mundo prega que podemos fazer o que quiser, não há limites para o prazer. Mas esse imperativo reprime. O imperativo impede a coisa de se realizar. Torna-a obrigação e não ruptura. Quem não goza hoje tem de ir ao psicólogo, mas há muita gente pagando de sexualmente feliz que é recalcado. E recalque é classificação para tudo o que não seja ser bem resolvido. Se você não exibe a buceta durante um baile funk você é recalcada. Gozar é uma ordem, e caso você não queira gozar você tem problemas. Mas isso é discursinho. As pessoas são medrosas, não é mesmo senhor Leitor? Eu mesmo sou um covarde, um calhorda, um canalha. Não existe livro aberto. Ninguém se expõe ao público, nem perfis públicos, são fachadas criadas, são personagens que eles mesmo criam. O privado não pode se tornar público, e não falo de instituições. Todo mundo tem um monstro sob a cama, e ele é uma parte de nós mesmos. Se esses monstros se desnudassem, o mundo entraria em colapso. O que ainda mantém o mundo minimamente seguro é fingir que nada acontece. E é por isso que todo mundo prega hoje em dia a felicidade perene e fácil, como se o próprio respirar já fosse felicidade. Tudo bem, não sou burro o suficiente de dizer que não gosto de viver, não vou me cortar os pulsos, pois gosto demais do meu corpo para vê-lo mutilado, e gosto muito de livros, sexo, rock, entre outras coisas para querer morrer cedo. Mas essa coisa de “sou resolvido” é puro artífice. No fundo essa gente é reprimida. Ninguém é bem resolvido, e não o é porque sabe, justamente voltando àquele clichê lá do início, que não há amanhã, que por mais que se faça planos você pode morrer, e quanto mais tentamos apagar a imagem da morte, mais ela se constrói aos nossos olhos como um sujeito ameaçador e impiedoso. Ah, então ela tem que ser familiar? Jamais, ela nunca poderá ser, não na maneira como nossa sociedade está construída. Depois dessa é melhor escondermos os canivetes da casa. Linda, pegue pra gente umas cervejas, por favor. Como? Agora sou machista porque pedi com delicadeza pra você pegar umas cervejas só porque você está mais perto da geladeira? Deixa pra lá, eu pego. E você, o que acha? Mas, hein? A filosofia é a falta do que fazer? Bem, digamos que eu acho que a metafísica às vezes é só um estado, depende de se estar de bom humor ou não, até uma comédia romântica desce quando se está de bom humor. Mas normalmente eu estou de mal humor, as coisas me cansam muito rápido. Aproveitando que ela saiu um pouco, posso te dizer, ainda bem que eu a como uma vez por semana, ou às vezes mais raro que isso, quem suportaria uma mulher gostosa assim o tempo todo? Se eu fosse seu namorado não aguentaria o olhar dos outros pros decotes e saias que ela usa. Imagina, a vida toda ao lado dela, a quais ordens tácitas eu não estaria obedecendo? Mas, pensando bem, mulher bonita ou feia não serviria para mim, e não serviria para ninguém se a vida fosse eterna. Imagine, saber que você vai se casar e vai viver eternamente ao lado de alguém é algo assombrosamente terrível. O casamento só existe porque há a morte para separar. Mas bem, estamos voltando a esse assunto. Mudemos. Um dia na mesa de bar, eu e um amigo entramos em um embate para tentarmos entender se o mundo é simétrico ou assimétrico. Ele defendia a primeira causa, eu a segunda. Ele dizia que o mundo era uma perfeição, calculado por alguma mão. Eu já penso que é na assimetria que o mundo é belo, essas curvas e imperfeições sem serem pensadas. Porém, e se alguma coisa ou alguém tivesse mesmo pensado no mundo o resultado deveras culminaria em algo simétrico? E o próprio acaso também não poderia dar em simetria? O conjunto das coisas assimétricas também não seria assimetria? Ficamos discutindo por horas fumando baseado e não chegamos à conclusão alguma. Mas sabemos que nem as montanhas possuem amanhã. Elas serão engolidas no fim dos tempos. Oi? Onde? Feira de interatividade? Agora você deu pra ser fã dessas coisas? Ok, não estou criticando, tá, me liga depois, tchau? Essa agora! Essas coisas interativas me assustam um pouco. Tem um filósofo que diz que estamos na época da interpassividade e não da interatividade. Temos coisas para que elas realizem funções para nós, e assim estamos livres de fazê-las. Mas isso nos torna passivos diante do mundo. E para aguentar essa interpassividade, as pessoas compram roupas, atitudes e amigos, e se pregam de loucos. Hoje em dia loucos são gente de dinheiro, que não sabe fazer o que com o que tem em mãos,  aí inventa uma revolta, coloca boné virado, anda de skate, ou vem falar de socialismo dormindo em berço de ouro, fica alternativo, muda de opção sexual, toma um porre e dá pra todo mundo da festa, e daí vem dizer que é louco postando frases no facebook “só os loucos entendem”. Esses bobinhos estão muito longes de um Van Gogh, cortar a própria orelha para mim é sim um sinal de loucura. Para mim, a loucura tem cara de clareza, de entendimento, é quando as coisas fazem sentido. Os beats não eram loucos, mas tinham chegado ao entendimento do todo e por isso fizeram o que fizeram, mas alguns se perderam. Mas é assim o gênero humano. Nem eles tiveram amanhã. Vai, vamos parar com isso, falemos de futebol. Quer outra cerveja?